segunda-feira, 15 de junho de 2009

Poemas na praia - Horas mortas

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O tecto fundo de oxigénio, de ar. Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras; Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras. Enleva-me a quimera azul de transmigrar. Por baixo, que portões! Que arruamentos! Um parafuso cai nas lajes, às escuras: Colocam-se taipais, rangem as fechaduras. E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos. E eu sigo, como as linhas de uma pauta. A dupla correnteza augusta das fachadas; Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas. As notas pastoris de uma longínqua flauta. Se eu não morresse, nunca! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das cousas! Esqueço-me a prever castíssimas esposas. Que aninhem em mansões de vidro transparente (...) Mas se vivemos, os emparedados. Sem árvores, no vale escuro das muralhas. Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas. E os gritos de socorro ouvir, estrangulados (...) E, enorme, nesta massa irregular. De prédios sepulcrais, com dimensões de montes. A dor humana busca os amplos horizontes. E tem marés, de fel, como um sinistro mar! (in Poesias Completas de Cesário Verde)