segunda-feira, 30 de junho de 2008

Leve beijo mortal

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Há palavras que nos beijam. Como se tivessem boca. Palavras de amor, de esperança. De imenso amor, de esperança louca. Palavras nuas que beijas. Quando a noite perde o rosto. Palavras que se recusam. Aos muros do teu desgosto. De repente coloridas. Entre palavras sem cor. Esperadas, inesperadas. Como a poesia ou o amor (...) Palavras que nos transportam. Aonde a noite é mais forte. Ao silêncio dos amantes. (Alexandre O'Neill in Poesias Completas)

terça-feira, 17 de junho de 2008

O que nos divide

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Vivemos habitualmente à superfície das bolhas do quotidiano, ligados ao que faz parte da vida imediata, encalacrados nas mil e uma futilidades com que nos enchem os dias grandes e pequenos. Perdemos as múltiplas almas nas tarefas menores do existir. Tudo se dilui num sentir que está encerrado através de noites obscuras e manhãs de nevoeiro. Antes e abaixo e mais longe do que esse tudo, há uma melodia envolvente que nos abraça invisivelmente. Quando se cultiva um espírito inquietante agarramo-nos aos galhos e abandonamos o tronco e o corpo.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

A felicidade pasmada

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Dentro de um sorriso redondo, de olhos abertos e rasgados, habita uma felicidade pasmada. Debaixo do fato aprumado, subtilmente vincado e do vestido de seda grená, habita uma felicidade pasmada. Ao lado do coreto dos músicos, da tasca do tio Alfredo, da mercearia do segundo direito, habita uma felicidade pasmada. Os risinhos introvertidos bocejam em sintonia nas bocas das beatas que por ali passam aos magotes para a missa. No fundo da rua, as árvores encostam-se às casas e empurram-nas para fora das paredes. Dentro das casas, as pessoas sentadas frente à televisão, de bocas cosidas, cospem palavras já fora de prazo. No quarto dos fundos, a Dona Arlete passa todos os dias a ferro a felicidade pasmada da menina Maria. A caminho dos afazeres diários, tropeça-se constantemente nas emoções estáticas, paralisadas e botoxizadas pela ausência de sentimento. No reino do faz de conta, a felicidade, tornou-se um forma de dominação totalitária. Deixou de existir na sua forma natural, passou a ser comercializada em cápsulas seleccionadas sem receita médica recomendada. Por detrás da imagem do paraíso ficcionado, controlado e imposto colectivamente, a felicidade é pasmada. A culpa, está do lado da ambição verde e viscosa que habita os piores e os melhores de nós. Fantasias de democratização das relações pessoais que escondem um ideal de unidade absoluta. Uma tirania de sapos que devemos resistir para não nos afogarmos no charco.

domingo, 1 de junho de 2008

Por detrás das pálpebras

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Há uma orquestração no meu sangue de balburdias de crimes. De estrépitos espasmados de orgias de sangue nos mares. Furibundamente, como um vendaval de calor pelo espírito. Nuvem de poeira quente anuviando a minha lucidez. E fazendo-me ver e sonhar isto tudo só com a pele e as veias!(Álvaro de Campos)