O homem nasceu livre e em toda a parte se encontra acorrentado (Rousseau). Os tempos da pós-modernidade indiciam a tragédia humana da nossa impotência. Os condicionamentos de uma vida vegetativa e animal determinada pela lógica cega da razão, tornou-nos em seres humanos acéfalos, sem sentido de vida. Hoje, quase tudo o que os indivíduos fazem, pensam, sentem, orienta-se no sentido da violência e do desespero. Vivemos num mundo onde nada está à medida do homem, há uma desproporção monstruosa entre o corpo e o espírito, tudo é desequilíbrio. Nunca o indivíduo esteve tanto à mercê de uma sociedade cega e nunca os homens demonstraram tanta incapacidade por submeterem as suas acções aos seus pensamentos. Esse desequilíbrio devorador transformou a máquina social numa máquina de fabricar inconsciência, impotência e angústia, esmagando os espíritos dos homens. Com máscaras de gás podem-se forjar miseráveis rebanhos de seres enlouquecidos, prestes a ceder aos terrores mais insensatos e acolher com reconhecimento as mais humilhantes tiranias, mas não cidadãos. Numa sociedade em que os afectos são reprimidos e as paixões asfixiadas, os amores e os desamores são reactivos, em conformidade com as imagens e preconceitos que os meios de desinformação nos impingem. A profecia de Nietzsche concretizou-se. O mundo verdadeiro transformou-se em fábula. Toda a sociedade dividida entre os que mandam e os que obedecem é uma sociedade de servidão. Está na altura de tudo mudar para que chegue ao fim esta servidão voluntária. Mas se a ficção acabou é preciso reescrever a ficção. Nothing more than words... soltas...e ainda que lisas numa folha de papel, teremos de imaginá-las cúbicas, redondas, de chapéu, pintadas com um pincel de pêlo de camelo, azuis com pintas verdes e belas como a espuma do mar.
terça-feira, 20 de novembro de 2007
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16 comentários:
Os teus textos fazem-me pensar. Penso que um dos maiores filósofos foi um português, cantor com apenas 2 discos gravados e precocemente desaparecido: António Varições. Coisas como
"Lá vai o maluco Lá vai o demente Lá vai ele a passar Mas tu estás sempre ausente não te conseguem alcançar"
...
bj
Acertaste, grande filósofo, demasiado à frente para o nosso tempo e que perdura para sempre eterno. Adoro todos os seus poemas (canções).
Blackiss
A obediência é um factor perigoso. Obedecer à sociedade pode apenas resultar em cobrir-nos de lã e balir em coro. Obedecer aos líderes, fitas torcidas de cassetes envelhecidas onde o som nunca passou de estática, é apenas imbecilidade. Obedecer ao filósofo, um qualquer, é vegetar nas palavras alheias. Obedecer amor, é fugaz, é hábito, é vício e pode ainda não ser mais que conforto. Obedecer ao cúmplice, é desafiar a cumplicidade; tactear sem dedos as sedas e os veludos. Obedecer a nós próprios? Não será o maior perigo? Quem somos cada um de nós? Que confiança oferecemos? Confiamos em nós mesmos? Obedecer às divindades? É um simples contrasenso. Então? Razurar a obediência, mutilar a obediência, violar a obediência e por fim, fazer da obediência o pó que o vento, sábio de mil anos, separa em partículas ínfimas, sem dono nem servo.
E agora, após o vocábulo deixar o nosso léxico, após a ideia deixar mancha no nosso espírito, mais que substituí-la é entregar a alma à vontade, ao desejo, ao momento e ao supremo tesouro: sentir. Sentir intensamente a cor da delícia.
Von
Acho que o essencial aqui é saber onde vais buscar as imagens maricas com que apimentas os teus textos.
"O segredo é a alma do negócio" in fasciculo 35 do planeta agostini.
A cor da delícia. Banda sonora: This mortal coil
Música: Song to the siren ou Nothing like blood.
" all animals are equal but some animals are more equal than others"
George Orwell < AnimalFarm >
;)
xxx
Vejo que temos os mesmos gostos por correntes filosóficas! Continuo a achar que Nietschze ainda é muito á frente para a nossa era, havemos de lá chegar... Parabéns pelo blog ainda não conhecia mas vou voltar...
expectativas, o problema reside só e apenas nas expectativas...
Menos Nietszche e mais Schoppenhauer
Então vamos filosofar mais um pouco e falar dessas paixões asfixiadas...
"muda de vida se tu n vives satisfeito/ muda de vida sestás sempre a tempo de mudar..."
O Gato
"Por mais maciço e imenso que seja este mundo, a sua existência depende, em qualquer momento, apenas de um fio único e delgadíssimo: a consciência em que aparece". Schopenhauer
Ora, era esse amigo que já dizia: "O homem é uma corda esticada entre o animal e o super-homem, uma corda por cima do abismo." Gosto do teu recanto. Aparece, camas e algemas são sempre bem-vindas.
:) era o mesmo senhor que dizia: "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros" (G. Orwell)
António Variações :)
As paixões asfixiadas aqui identificadas não se referem às paixões ávidas de desejo, emoção, sufocadas pela voragem do quotidiano.
São sim paixões asfixiadas porque quando mandam em nós, são vícios.
Hummm... vou procurar a fábrica onde se faz a máquina de fabricar inconsciências... e exigir a descontinuação da produção!
:P
beijos e bom fim de semana!!!
Senão há sempre o direito à greve dos trabalhadores. Brigadus ;)
Blakiss
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