domingo, 6 de abril de 2008

Estou onde não deveria estar

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Que podemos sonhar quando temos consciência de que o nosso sonho se evaporou? Quando já não esperamos mais nada, somos somente as histórias que arrastamos dia a dia, tudo aquilo que não compreendemos. Regra básica, nunca pronunciar a palavra amor diante de um homem, sobretudo numa língua estrangeira porque julgamos que soa melhor dito assim. Sempre pensei que o que ia acontecer a cada minuto que passava traria consigo todas as respostas só pelo simples facto de existir. Mas não, fui traída pelas palavras não ditas. Fiquei às escuras uns bons segundos, apenas três janelinhas de madeira deixavam entrar um pouco de luz naquele quarto de hotel. As casas depois do crepúsculo têm outro aspecto. Tornam-se estáticas, paralisadas, carcomidas pela inércia. Os viajantes diários dos subúrbios que passam a correr pelas suas vidas, começavam a desaparecer-me do campo de visão. Os meus sentidos estavam embotados. Abatida pelo calor, estiquei-me na cama, fechei os olhos por breves instantes, ali fiquei a pensar naquele barzinho de bairro, onde estivera há instantes a beber um licor adocicado e delicioso e que me provocara uma sonolência abrupta. Vieram-me à memória aquelas personagens que entraram e sairam vezes sem conta, mas somente duas fixaram a minha atenção. Ao balcão estava uma mulher sozinha, bebia whisky despreocupadamente. Tinha a pele muito branca e o cabelo muito preto, que contrastava com uma espessa camada de rímel e os lábios muito vermelhos, deixava entrever o decote e a renda branca do corpete que trazia debaixo do casaco. Há mulheres com e sem sedução e ela tinha-a. De olhos melancólicos, talvez, ou tristes, semicerrados, havia um homem impecavelmente vestido de preto, esboçava umas feições atrevidas e o seu sorriso sedutor alastrava-se até a mulher. Não falaram, apenas trocaram olhares e golos de bebida em uníssono. Acabamos por acreditar que são os atalhos do destino ou os caminhos retorcidos do nosso esforço em querermos ser felizes. Pensamos em viagens, crimes e aventuras e afinal os homens não gostam da palavra sempre, faz-lhes medo. Os homens têm todos medos estranhos.

14 comentários:

Anónimo disse...

talvez tenhas razão....mas serão estranhos ou diferentes dos vossos?

Moyle disse...

«Tinha a pele muito branca e o cabelo muito preto, que contrastava com uma espessa camada de rímel e os lábios muito vermelhos»

Eu aqui a magicar que a bichana seria persa mas afinal nem é bichana, nem persa. Afinal é uma gueixa. Nem sei como demorei tanto a perceber...

VanArt disse...

Olá!

Quando o nosso sonho se evapora, recriamos outro... e outro... e outro... independentemente de ele se realizar ou não, em correr bem ou não, sonhar é tudo...

Por vezes as palavras estragam tudo, mesmo a palavra "Amo-te", por vezes esta é forte demais, ou então damos-lhe um significado demasiado forte... a verdade é que "Amo-te", hoje, esta banalizado, é dito sem se pensar, sem realmente se sentir... e muitas vezes magoa, não só a pessoa que a diz mas também quem a ouve...

Em rela¢Ão aos medos dos homens... não temos nós estranhos receios também? Talvez diferentes como o "Noivo" diz...

Gostei do modo com descreves-te "as casas depois do crepúsculo" apesar de não concordar muito quando dizes que as casas se tornam paralisadas... mas são pontos de vista:)

A descri¢ão da "gueixa" como o "moyle" (a meu ver) tão bem chamou , também está deliciosa, sim há mulheres com um poder de sedu¢ão enorme... e esta tua descri¢ão demostrou-o muito bem...

Doce beijo...

black puss in white boots disse...

Às vezes são estranhos noivo, quando usei a palavra "estranhos" foi com conhecimento de causa. Não com intuição sexista. Risos :)
Não sei se são diferentes, as mulheres são complicadas, mas mesmo assim o sexo oposto consegue ser ainda mais complicado. Que me perdoem os elementos masculinos. Não é uma crítica, é uma simples constatação, da qual posso estar redondamente enganada. Até prova em contrário ;)
Blackiss*

black puss in white boots disse...

:)))) Sim poderia ser as memórias de alguma concubina.
Excelente ideia moyle, quem sabe num próximo post, não escrevo qualquer coisa sobre isso. Uma gueixa que afinal era uma bichana persa :)
Blackiss

black puss in white boots disse...

Enquanto recriamos outro sonho, temos de esperar que o anterior se desvaneça por completo. Por vezes não é fácil, fica-nos sempre o olfacto do outro sonho que passou.
Pena que a banalização das palavras se tenha tornado uma roupa de vestir hoje em dia e nem se guardou uma peça para os dias festivos.
Se calhar por isso é que os homens têm medo, deixaram de acreditar na simplicidade e na autenticidade das emoções. E as mulheres também, claro.
Não sentes isso às vezes vanart? Muitas vezes dou por mim a olhar o quotidiano urbano e no meio daquela lufa lufa, correria, os viajantes diários, mal entram nas suas casas, trancam as portas e deixam de ser vida, passam a ser habitantes de casas, para só voltarem a viver na manhã seguinte quando saem de casa e retomam as rotinas.
Em cada mulher há sempre uma gueixa, uma persa sedutora à espera de ser acordada :)
Blackiss my dear!

VanArt disse...

Não deixas de ter razão, mas se não recriarmos um novo sonho, afogamo-nos no antigo, e isso nem sempre é bom...
Sim sinto, cada vez mais, para ser sincera. E vendo as coisas dessa perpectiva, dou-te razão em rela¢ão ás casas paralisadas... é verdade perdemo-nos numa rotina quatidiana: casa trabalho, trabalho casa, e esquecemo-nos de viver... Chegando a casa é só fazer o jantar, jantar e.... dormir porque no outro dia recome¢a tudo novamente... Mal se fala em casa, inclusivé por vezes o unico som que se ouve é o som da televisão...
O que é triste é que não foram só as palavras que se tornaram "uma roupa de vestir" a nossas vidas também... deixamos de ter um sentido, hoje só se vive para ganhar dinheiro (até porque sem este nem comer se pode). Nem identidade temos, somos apenas um numero!
Sim existem excep¢ões, existem aquelas pessoas que consguem manter as suas identidade, ms até elas se rebaixam perante a monotona rotina...

Desculpa esta as divaga¢ões, mas... saiu...

Doce beijo

Von disse...

Os homens talvez precisem de quem lhes ensine o significado das palavras... E talvez possam ensinar novos significados para certas palavras. Não todas, mas apenas algumas.

Sem os significados pessoais, estas tuas palavras, seriam uma cena perfeita num filme imperfeito... escuro e cru.

Von

literatura disse...

É uma visão como qualquer outra! Quem não tem Medos, Humano não é!
O Homens têm-nos as Mulheres também...
Boa semana

black puss in white boots disse...

Concordo com tudo aquilo que disseste vanart, realmente é mesmo isso que se passa, infelizmente. Estás à vontade para fazeres as divagações que quiseres no meu telhadinho, afinal ele serve para isso. Ao menos que haja, ainda que no espaço virtual um momento para respirar o nosso outro lado, antes que as teias de aranha do quotidiano o aprisionem para sempre.
Grande blackiss ;)

black puss in white boots disse...

Isso é uma aprendizagem conjunta é verdade von, mas por vezes é tão complicada, porque o ser humano tem o defeito terrível de complicar o simples.
E que nome darias ao "meu filme"? Já temos o argumento, que tal o resto da realização/produção: i.e banda sonora, nome, actores/actrizes,local de rodagem...

black puss in white boots disse...

Os medos fazem parte, garantidamente. Se o Homem soubesse e controlasse tudo seria extremamente aborrecido. O viver em função daqueles pequeninas/grandes hesitações, indecisões, emoções faz do ser humano um ser dotado de corpo e espírito, portanto completo.
Obrigada pela visita neuribal e os livros.
Votos de uma boa semana também :)

R. disse...

lembrei-me de uma música do grande Variações :)

Kiss!!!!!

black puss in white boots disse...

(...)Estou bem. Aonde não estou. Porque eu só estou bem. Aonde eu não vou. Porque eu só estou bem. Aonde não estou (...)
Sinto muitas vezes isso vertigo.
Blackiss ;)