Os nossos sentimentos são como uma floresta de esparguete de aço em que cada segmento emerge só parcialmente distinto. Na ponta de cada uma dessas varas vibra uma formação algo rendilhada, consequência dos constantes tremores de cada segmento, e assim, quando alguém está sob o império de funda emoção, tudo nele treme e na floresta tudo vibra e essas extremidades rendilhadas formam rapidíssimos desenhos, imiscuindo-se uns nos outros, e o total é uma combinação de vibrações que se sobrepõem e explicam a confusão que se encontra no indivíduo sob o império da emoção. (Ana Hatherly, in Tisanas)
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
O corpo do tempo
O tempo tem um corpo que vive fora da alma do homem. Habita nos degraus dos segundos quando os minutos sobem as escadas à pressa. Se às horas lhes despirmos os dias, o corpo do tempo arrefece. Deitado de barriga para cima, espera que os meses se deitem lado a lado. Quando está triste sopra para fora do relógio. Quando está feliz pede aos ponteiros que o abracem.
La beauté du geste
As pingas de chuva marinam os dias enxutos. Aqui, neste mundo de papel virtual onde construímos aquilo que somos, as palavras são servidas como se fossem bolachas. No meio deste inverno gelado, enquanto vagueio ao sabor dos teus lábios indomáveis, permaneço abraçada aos teus olhos intensos, folhas enraizadas, com o sorriso das estrelas junto à liberdade do mar. Encanta-me a cor do crepúsculo a apagar-se com o dia. Quando a noite calma chegar, abro os olhos e entrelaço os meus dedos nas tuas mãos e volto a fechar os olhos. Às vezes queria ser uma das tuas pestanas, para o brilho do olhar ser o meu sol que nascia de manhã para à noite se pôr e dar lugar ao sonho.