O amor duradouro não é um estado, mas uma sucessão de trevas e luzes fascinantes. É uma perda contínua e um maravilhoso reencontro. É como o pulsar de um coração: uma sucessão de vazios? a diástole? e de cheios? a sístole. Não é estático; é feito de vagas, como o mar e como a luz. (Francesco Alberoni, Jornal I, 04/08/09)
terça-feira, 4 de agosto de 2009
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Poemas na praia - Horas mortas
O tecto fundo de oxigénio, de ar. Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras; Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras. Enleva-me a quimera azul de transmigrar. Por baixo, que portões! Que arruamentos! Um parafuso cai nas lajes, às escuras: Colocam-se taipais, rangem as fechaduras. E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos. E eu sigo, como as linhas de uma pauta. A dupla correnteza augusta das fachadas; Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas. As notas pastoris de uma longínqua flauta. Se eu não morresse, nunca! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das cousas! Esqueço-me a prever castíssimas esposas. Que aninhem em mansões de vidro transparente (...) Mas se vivemos, os emparedados. Sem árvores, no vale escuro das muralhas. Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas. E os gritos de socorro ouvir, estrangulados (...) E, enorme, nesta massa irregular. De prédios sepulcrais, com dimensões de montes. A dor humana busca os amplos horizontes. E tem marés, de fel, como um sinistro mar! (in Poesias Completas de Cesário Verde)
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
O natal dos afectos
Os nossos sentimentos são como uma floresta de esparguete de aço em que cada segmento emerge só parcialmente distinto. Na ponta de cada uma dessas varas vibra uma formação algo rendilhada, consequência dos constantes tremores de cada segmento, e assim, quando alguém está sob o império de funda emoção, tudo nele treme e na floresta tudo vibra e essas extremidades rendilhadas formam rapidíssimos desenhos, imiscuindo-se uns nos outros, e o total é uma combinação de vibrações que se sobrepõem e explicam a confusão que se encontra no indivíduo sob o império da emoção. (Ana Hatherly, in Tisanas)
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
O corpo do tempo
O tempo tem um corpo que vive fora da alma do homem. Habita nos degraus dos segundos quando os minutos sobem as escadas à pressa. Se às horas lhes despirmos os dias, o corpo do tempo arrefece. Deitado de barriga para cima, espera que os meses se deitem lado a lado. Quando está triste sopra para fora do relógio. Quando está feliz pede aos ponteiros que o abracem.
La beauté du geste
As pingas de chuva marinam os dias enxutos. Aqui, neste mundo de papel virtual onde construímos aquilo que somos, as palavras são servidas como se fossem bolachas. No meio deste inverno gelado, enquanto vagueio ao sabor dos teus lábios indomáveis, permaneço abraçada aos teus olhos intensos, folhas enraizadas, com o sorriso das estrelas junto à liberdade do mar. Encanta-me a cor do crepúsculo a apagar-se com o dia. Quando a noite calma chegar, abro os olhos e entrelaço os meus dedos nas tuas mãos e volto a fechar os olhos. Às vezes queria ser uma das tuas pestanas, para o brilho do olhar ser o meu sol que nascia de manhã para à noite se pôr e dar lugar ao sonho.
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Dentro de mim habita um grito
Nos braços da tarde encardida, que inspira e expira amor, procuro-te por entre as prosas doces que atravessam as palavras. Tenho a mente despida pelo teu reflexo. Sussurro-te ao coração pedaços de mim em papel. Quando o céu estiver cinzento, adorno-te com os meus cabelos que entram pela janela mal fechada. A música ao longe, desce em camadas pelos ombros e vem aquecer-me ao perto.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Os jardins de luz
Perdi-me no calor dos teus abraços e encontrei-me no calor dos teus beijos. La bohème, la bohème a voulait dire tu es jolie.
quarta-feira, 23 de julho de 2008
O primeiro tango em Paris
Sob as perpétuas estrelas de Montmartre, que abafam o clamor do mundo, dança comigo no silêncio dos teus braços. Sussurra-me ao ouvido poesias desses véus de vultos que o olhar envolve e eleva, para que possa aprisionar o meu reflexo nos teus olhos profundos. Despe a minha alma em minutos compassados e perde-te nas minhas mãos suadas pelos longos abraços intemporais. Bebe o veneno que te ofereço pelos meus lábios de sangue intenso. Dança comigo nos acordes dos meus sentidos, envoltos nos tentáculos do mundo visível e invisível. Quebra os vidros de todas as manhãs calmas e latejantes em todos os bancos de jardim que esperam a noite toda. "Dance me very tenderly and dance me very long...to the end of love."