Costurava dia e noite sem parar, os retalhos da vida que ficaram por usar, nos dias demasiado frios e nas noites demasiado quentes. Quando chegava a hora de ir dormir, pegava na sua cestinha, cheia de fechos éclair, colchetes, velcros e pregadeiras de várias cores e tamanhos e aconchegava-a no colo até sentir o seu doce respirar. Dobrava sempre os tecidos, tantas quantas vezes fossem necessárias, até encontrar a medida certa. Apertava tanto as palavras com as mãos até sairem em ponto cruz pela boca. Desatava cuidadosamente os nós dos cabelos entrelaçados pelos dedos dele. Cosia os joelhos às pernas com fios de urdume para evitar que as mãos dele encontrassem os botões. Alinhavava a vida em brocados de cetim dourado ou prateado. Cortava enviesado o destino traçado a giz. Recortava o coração, ora pregueado, ora franzido ou simplesmente em godés. Tanto alfinete deixava-o sempre espartilhado. Já sem punhos de paciência, tirou a gola de plumas e costurou um cós, desde os ombros até aos quadris. Um dia...arrumou a máquina de costura e dedicou-se à jardinagem.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
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20 comentários:
texto bem giro!
Tu és simplesmente incrivel... que texto soberbo!
Consegues deixar-me sem palavras... sem grande capacidade de corte e costura.
:P
Uma estilista de escrita.. sem dúvida..
Muito muito bem:))
Bela frase da red... "Estilista da escrita" Não diria melhor:)
O Gato
era uma vez um miúdo que gritava desesperado por um bicicleta. era o sentido da sua até então curta existência. gritava, infernizava a vidade toda a gente, na esperança de pela perseverança arruinar a resistência dos outros pela tibieza das convicções destes. os efeitos práticos da tortura aprendera-os bastante cedo, de facto. um dia, porém, a mãe, numa manifestação de intrasigência e força, tendo em vista uma pedagogia profiláctica (não queria criar um monstro) disse-lhe frontal e abruptamente:
- Não podes e não vais ter uma bicicleta e não são os decibéis que me vão convencer do contrário.
Perante a força da afirmação materna, fortaleza que não apresentava nenhuma brecha por onde pudesse ser derrubada o miúdo fez a única coisa que podia fazer, amuou. e, de raiva, deixou de comer laranjas.
[podia ter escrito isto só com uma frase, mas assim tem mais piada]
como acredito que esta história tem um lado B, não posso deixar de dizer que adorei!
:) Volta sempre, feel it.
Blackiss ;)
Risos :)
Agora quem ficou com as palavras chuleadas, fui eu. Esse título é uma menção muito nobre. Merece um brinde especial.
Tchin-tchin minha querida red.
Grande blackiss!
Rinhauszzz gato :)
Uma festinha nos bigodes.
Black rronn rooon ;)
Que história comovente moyle, quase que escorregou uma lagriminha no canto esquerdo do olho. E agora, como vai ser a vida desse miúdo, sem comer laranjas.
Tão imprescindível para o seu crescimento. Vai ser um excluído da sociedade. O drama, o horror, a tragédia....
:) Não percas o próximo episódio, noivo. Lado B: brevemente num cinema perto de si!
Blackiss ;)
Ena Black Puss... uma fantástica analogia da vida, colada à costura... adorei!
E gostei particularmente do final:
"desistiu da costura e dedicou-se à jardinagem."
Um beijo viajante...
Que bonito!!! Que belo manto de palavras costuradas...
original,como sempre :)
beijoooo
A nossa vida é quase uma caixa de costura, sempre a remendar aqui e acolá e a cortar a direito por linhas tortas.
Blackiss sentido para ti viajante ;)
Obrigada pela visita carlos.
Blackiss ;)
Obrigada vertigo. xuak ;)
Bom fim de semana! Grande blackiss!
Quando ele ficou pronto ela saiu e foi "costurar" para o jardim. Ele talvez dê um bom espantalho...Evitar que os pássaros danados comam as sementes das roseiras deles:)
beijos, black puss
Uhmm...gostei do próximo capitulo da história, abssinto, parece-me que temos mote para o lado B da menina eduarda mãos de tesoura.
Blackiss ;)
... As mãos, já cansadas, se encontraram com a terra úmida. A sensação era de leveza. Ouviu-se um ruído...
A Eduarda estava à espreita e ouviu o ruído. Mas no meio do jardim, envolta nas suas emoções de costura, que ruído seria?
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