No lusco-fusco dos dias, queremos trincar as pétalas de todas as flores, num desvario de nuvens apressadas. Numa correria desenfreada pelas estradas de areia sem alma, nem sequer abrimos as portas. Quando nada nos prende aos telhados das casas, os nossos cabelos ficam emaranhados nas teias de aranha onde em tempos nos havíamos perdido loucamente. Debaixo do chão do coração, existe sempre uma aranha a tecer melodramas em movimentos circulares, nos meus/teus telhados, nas tuas/minhas casas. Na cama do impossível, rolámos tantas vezes até doer, os teus/meus braços, as minhas/tuas pernas, os meus/teus cabelos, a minha/tua boca, os vincos das peles a pulsarem até ao infinito, os martelos do desejo dentro da minha/tua cabeça, sempre a tilintar pregos mais profundos. Os corpos já cansados de tanto se esfregarem, como se não houvesse amanhã, adormeceram e quando acordaram já não havia amanhã, porque a borracha fina, branca e preta do quotidiano fez questão de apagar ferozmente.
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
16 comentários:
e de certeza que não ficaram uns vestígios?
Bem podes tentar apagar ferozmente... mas não dá. Enquanto vida houver, amanhã haverá... Pode é ser um amanhã diferente.
Mas haverá sempre amanhã.
Adorei, como sempre...
Um beijo viajante...
Sempre que há uma tentativa de reescrever a história, a borracha aparece e apaga tudo de novo.
Amanhã haverá sempre, tens razão viajante, mas sempre escrito com uma caneta diferente.
Blackiss
ARREPIAS-ME!
(tenho dito!)
Ai..o que eu precisava de uma borracha capaz de apagar algum ontem.ferozmente!
Um beijo (grande)
Desenfreada foi a leitura deste teu texto!
A ondulação fatal e animal até... destas palavras seduziu-me inteiramente.
Divinal simplesmente.
O tema musical é magnifico.
Parabéns (assim sendo)
Desde que seja um arrepio avassalador e assolapado :)
Blackiss redlight
Aí vertigo...queres que te empreste a borracha branca e preta do quotidiano, ela é infalível.
Mas não ligues, há sempre uma outra página à espera para ser reescrita.
Blackisses
Obrigada corvo negro. Corvo que voa, corvo que canta, corvo que dança, corvo que sonha. Para aqueles que sabem ler com um olhar profundo um sopro black especial.
No lusco-fusco, o verdadeiro, prefiro trincar as pétalas das flores, muito poucas, que aromatizam o momento, mesmo se o lusco-fusco de todos os dias só existe nos dias certos. Esses aromas e os dentes nas pétalas desejam-se devagar, sem correrias. E mesmo se os lugares já não mostram as teias de antigamente, procuro as novas. Sempre haverá uma nova se procurar lentamente.
E o acordar irá reter os fiapos do sonho. Os suficientes para assombrarem o dia. Todo.
Von
Rolar nas feridas, no ar exausto do lusco-fusco verdadeiro de todos os dias, nos suplícios dos aromas deixados pelos dentes nas pétalas, no silêncio das águas e do ar assassino das teias de antigamente, nas torturas dos fiapos dos sonhos que riem em silêncio, para assombrarem atrozmente o dia todo.
(Apreciei bastante a dança de palavras von e não resisti a uma segunda rodada)
Só para desejar bom fim de semana!
Beijo viajante...
Tem alturas em que é mesmo até à exaustão... por vezes, quase que se desmaia...e só no "depois" se sente que as energias desapareceram sem se dar sequer por isso...
Beijito :)
Gracias, bom fim de semana também para ti viajante ;)
Blackiss
Depois da exaustão de tudo, descansa-se à espera que as energias se renovem ou não...
Blackiss shelyak ;)
Enviar um comentário